Pequenas Descobertas

Aos poucos vamos descobrindo que acordar é muito mais do que despertar pela manhã...

Frutos do descaso

Dizem que a onda de protestos em São Paulo, iniciadas neste fim de semana, são frutos da ação irresponsável de policiais militares que resultaram na morte do adolescente de apenas 17 anos, Douglas Rodrigues.

A Sociedade e seus valores

A decadência de determinados valores em nossa sociedade nos leva a uma perda incalculável nas relações sociais.

Carlos Drummond de Andrade

Quando ele nasceu e seu Anjo o disse que ele estava fadado a ser gauche na vida, nem meus avós eram nascidos. Quando ele faleceu,eu ainda não andava nem falava.

domingo, 11 de janeiro de 2009

O Assalto

Crônica

Eu andava pela rua, que estava muita tranqüila, assim como eu. Só senti um puxão em meu braço que para o meu desespero, era um assalto. Era um garoto de mais ou menos dezesseis anos, franzino e de cor clara. Segurei-o pelo braço, com muita facilidade. Na minha outra mão, eu segurava os presentes dos meus afilhados, que eu estava indo entregar. E na outra mão dele, meu telefone. Comecei a olhar ele nos olhos, não gritei e ninguém passou para me ajudar. Comecei a imaginar por que um garoto, que deveria estar brincando ou praticando esporte estaria naquela situação. De repente me bateu uma revolta. O que o governo estaria fazendo naquela hora? Com certeza o mesmo que aquele menino acabava de me fazer. Só que em uma proporção maior.

Eu segurava o garoto. Ele me olhava, fazia força pra eu soltar. Eu era mais alta que ele, e estava com os braços fortes, resultados das aulas de taekwondo. Poderia tê-lo acertado com chutes ou socos. Mais era só um garoto que eu segurava pelos braços, como se fosse um garoto rebelde a fugir da mãe. Não poderia fazer nada, estaria descumprindo com o meu dever social de proporcionar a integridade física da criança e do adolescente, e ele era só um menino. Pensei na mãe dele, onde estaria? Talvez trabalhando, para tentar dar condições ao filho, já que ele estava muito bem vestido. Talvez ela nem saiba que ele praticava roubos no centro da capital. Ele parecia estar drogado. Meu Deus era só um garoto!

Era 10hs da manhã, e pensei se ele já teria feito o desjejum. Ele fazia força para se soltar. Eu não queria reagir. Meu celular era segundo plano, estava velho e merecendo troca. Olhávamos um pro outro, eu quis perguntar se ele estava com fome, mais não disse nada. Apenas olhei aquele garoto magro e pálido, com os olhos vermelhos, que eu segurava forte pelo braço.

Pensei na mãe que foi autuada em flagrante está semana, por prender o filho em casa. Ele era viciado em drogas, e ela não agüentava mais a situação. Imagina o desespero da mãe em ver o filho de 17 anos viciado em crack. Mais eu estava com um garoto segurando-o pelos braços. Nem imaginava o que estava por traz dele. Pensei se ele estaria matriculado em uma escola. Muita coisa passou em minha cabeça enquanto nos olhávamos nos olhos. Eu pensava o tempo todo, que aquele assaltante, era só um garoto. Eu não quis mais segura-lo. Já havia passado 20 segundos que estávamos ali, olhando um para o outro sem dizer nada. Soltei-o e disse apenas: Vá embora.

Ele correu ágil pelas ruas. Pensei em como ele daria um bom atleta. Sua arrancada veloz me fez imaginá-lo no pódio, após uma corrida. Infelizmente ele já tem seu destino traçado. Meu celular vai virar droga nas mãos dele. Mais tarde outra pessoa será vítima deste garoto. Que durante a corrida deixou os chinelos para traz. Quantos meninos estão nessa situação? O que o governo estaria fazendo com o nosso dinheiro? Como já disse anteriormente, o provável é que seja o mesmo que aquele menino acabou de fazer. Eu o vi correr, em direção à morte, ao desespero e para o desespero de seus pais.

Quanto a mim, fui entregar os presentes. E pensar em o que estamos fazendo de nossas crianças e de nossas próprias vidas.

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