Pequenas Descobertas

Aos poucos vamos descobrindo que acordar é muito mais do que despertar pela manhã...

Frutos do descaso

Dizem que a onda de protestos em São Paulo, iniciadas neste fim de semana, são frutos da ação irresponsável de policiais militares que resultaram na morte do adolescente de apenas 17 anos, Douglas Rodrigues.

A Sociedade e seus valores

A decadência de determinados valores em nossa sociedade nos leva a uma perda incalculável nas relações sociais.

Carlos Drummond de Andrade

Quando ele nasceu e seu Anjo o disse que ele estava fadado a ser gauche na vida, nem meus avós eram nascidos. Quando ele faleceu,eu ainda não andava nem falava.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Filosofia de um bêbado

Era uma tarde de domingo, desses que os casais comemoram por estarem juntos. Não estava comemorando nada, a não ser o fato de estar voltando de um trabalho extra que peguei para fazer no final de semana. No primeiro ônibus que embarquei à caminho de casa, poucos minutos depois embarcou um homem aparentemente embriagado. O que confirmou minha suspeita foi o cheiro de álcool que invadiu o ambiente.

Por algum motivo que ainda não sei, ele entrou no ônibus e começou a reclamar da vida, dos evangélicos que pregavam a palavra de Jesus e de várias outras coisas. “É muito fácil vestir uma roupinha bonitinha, estar limpinho e cheirosinho aí vem um e te abraça. Vão todos tomar no...”, gritava ele.

Como era domingo o ônibus estava relativamente vazio. Sentei num banco em frente a área reservada para deficientes, que também estava vazia e onde o bêbado se sentou logo depois. Ele olhou no fundo dos meus óculos escuros e voltou a reclamar. Contou que foi mendigo e morou por vários anos embaixo do Viaduto Castelo Branco, aqui em Belo Horizonte. Cada frase que ele dizia era acompanhada de um palavrão e olhar de revolta.

Dentre os assuntos que ele reclamava, começou a dizer sobre preconceito. “Dizem que no Brasil não tem preconceito. Não tem nada é o ...! Como podem dizer isso? Enquanto uns ganham R$ 500,00 outros ganham R$ 500.000,00...”, bradou ele, em direção a mim. Logo depois, seus olhos encheram de lágrimas e ele começou a dizer sobre fim de ano. Em suas palavras, o tom de tristeza me comoveu. As lágrimas verdadeiras, ou apenas de bêbado mesmo, que rolavam dos seus olhos começaram a me embriagar.

“Ninguém sabe o que é morar embaixo de um viaduto e não ter uma mesa farta, enquanto todos estão em casa com a família. Eu passei dia 23 e 24 de dezembro lá debaixo do Viaduto Castelo, com aquele povo que ninguém dá um abraço. Eu abracei eles e eles me abraçaram. É muito fácil ter uma roupinha bonitinha estar cheiroso e você receber um abraço, quero ver alguém te abraçar quando você esta cagado, aí eu quero ver”, filosofou ele aos berros, dirigindo suas palavras quase diretamente a mim.

Ele também relatou sobre como os moradores cozinham os alimentos. Eu já havia observado que eles usam uma lata como panela, dois tijolos ou pedras para simular um fogão. “É muito fácil ter um fogão grande em casa, que você aperta e sai fogo. Quero ver ter que acender o fogo com álcool, usar uma latinha para cozinhar um angu, fritar uma linguiça. Aí eu quero ver...”, cuspiu as palavras acompanhadas de novos palavrões.

Nessa altura, já estávamos chegando próximo ao meu ponto de desembarque para esperar o outro ônibus. Na minha mochila, minha câmera fotográfica, meus blocos de anotações e muito material para editar. Quando estava quase conseguindo me perder em meus pensamentos, o bêbado voltou a se dirigir a mim, dessa vez diretamente. “Você com seus óculos escuros. É bonito, mas impede que as pessoas se olhem diretamente nos olhos uma da outra e sinta a dor do outro através do olhar”, despejou as palavras juntamente com o forte cheiro de álcool. Não é que ele estava certo, mais uma vez.

Mas já estava na hora de descer, então pensei em escrever sobre o fato. Então veio uma ideia inesperada, e quando vi já havia feito. “Qual seu nome?”, perguntei já descendo do ônibus. “Vicente, meu nome é Vicente”, contou ele, com um olhar de quem se sentia realizado, como se a minha pergunta tivesse tornado ele um ser existente e simbolicamente importante na nossa teia social. “Vai com Deus. Deus te proteja”, abençoou ele enquanto eu descia. “Fique com Ele também, boa semana”, respondi enquanto a porta se fechava.

Então tudo voltou ao “normal”, o cheiro de urina e fezes da Região Central, misturado com o vai e vem das pessoas na Praça Sete de Setembro. Então me pergunto, essa é a vida normal ou a pessoa embriagada, sou eu? Que vive em um mundo paralelo, correndo atrás de promoção no trabalho e reconhecimento profissional, enquanto muitas coisas acontecem e muitas pessoas pedem socorro.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Entrega do Título Doutor Honoris Causa ao Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri






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